Autodidata em matéria de ser mãe, estudante da UFT é exemplo de superação
Quando o assunto é a escola da vida, a estudante de pedagogia da UFT, Aldina de Jesus Botão Almones é autoridade. A maranhense de 52 anos se encaixa exatamente no perfil de “supermãe”. E se não podemos contar as histórias de todas as “supermães” inspiradoras com quem convivemos na UFT, aqui contamos a história de Aldina, que tem um pouco de cada uma delas, e alguém que aprendeu a escrever com sacrifício para reescrever seu próprio destino e, até onde pôde escrever diferente a história dos filhos.

Aldina “já nasceu adulta”, como ela mesma diz, e “tinha tudo para dar errado na vida”. Desde os sete anos trabalhava em casa de família. Cedo perdeu os pais de criação, e com pais e irmãos biológicos nunca teve muito convívio. Foi criada meio na rua, meio de casa em casa com alguns parentes, sem muitas referências ou alguém que lhe desse conselhos.
Desde pequena queria aprender o be-a-bá para se tornar professora. Não podendo ir à escola, ajudava a carregar água do poço em troca de “lições” de um primo mais velho. “Ele lia umas folhinhas dos quadrinhos do Tio Patinhas, e eu decorei aquilo tudo, achando que estava lendo. Só mais tarde descobri que o que ele dizia que lia não tinha nada a ver com o que estava escrito ali”, conta Aldina, decepcionada, por instantes menina de novo.
A expressão de ingênua inocência não dura muito e quem volta a falar é a Aldina madura, que não guarda mágoas nem tem pena de si mesma: “Eu me conformei com aquilo”, diz baixinho, “mas nunca desisti do meu sonho”, emenda rapidamente retomando o entusiasmo.
O sonho de aprender a ler só viria a se realizar bem mais tarde, quando Aldina tinha seus 29 anos, por intermédio de uma antiga patroa. “Ela conseguiu que eu assistisse às aulas com crianças, mas eu não era aluna mesmo, porque não era uma turma para a minha idade, não fazia provas nem nada. Quando cheguei acharam que eu era a professora... Então eu ficava lá quietinha, e fui aprendendo.”
Bem antes de entrar pela primeira vez em uma sala de aula, porém, ela se tornou mãe. O primeiro filho veio quando ela tinha apenas 13 anos.
Aos 35 anos casou pela segunda vez, sempre com a ideia de continuar os estudos. Mas a vida não era fácil. Após um tratamento de saúde que acabou gerando outras complicações, Aldina se aposentou, e ainda não ficou totalmente recuperada. “Já precisei assistir a aula em pé por causa das dores, mas eu não desisto.”
Em meio a tudo isso, o coração de mãe de Aldina, onde cabe um amor incondicional por seus oito filhos – seis meninas e dois meninos – além de 15 netos, carrega o peso de duas grandes perdas. Dois filhos. Um deles foi assassinado após reagir a um assalto. A violência forçou a família a deixar a cidade de São Luís, há cerca de 12 anos. Apesar das circunstâncias tristes, a mudança para Palmas representou também uma virada positiva – e definitiva.
Cheia de determinação, Aldina começou a estudar seriamente, em 2004 terminou o Ensino Médio e quando muitos poderiam pensar que ela já tinha ido longe demais, prestou vestibular em 2007. Na dúvida entre cursar Serviço Social ou Pedagogia, a vocação para ser professora falou mais alto.
Não passou na primeira tentativa, mas na segunda, em 2008, nada a impediu de começar a faculdade. Mais que por realização pessoal, Aldina conta que fez tudo isso para “ser uma mãe melhor”. “Eu tinha vontade de aprender mais para ajudar meus filhos, poder ensinar a eles, e também para poder dar a eles tudo o que eu queria ter tido.”
Com toda a experiência, e apesar do orgulho de ter chegado ao Ensino Superior, Aldina sabe que por mais que ela aprenda na Universidade, a vida sempre ensinou mais. Não foi a escola que a ensinou a viver, mas a vida que a ensinou a importância de estudar. E foi assim que ela se tornou uma mãe diferente da que teve, e formou uma família apegada, carinhosa e presente. Antítese de um passado que ela nunca quis repetir.
Herança de mãe para as filhas, de avó para os netos

Aldina orgulha-se dos filhos e netos que conseguiu criar com o próprio esforço, sem que eles precisassem começar a trabalhar cedo como ela. E a reciprocidade desse sentimento é evidente. Apesar da grande decepção de não ter visto os filhos mais velhos prosseguirem os estudos, “porque afinal nem os dedos da mão saem todos iguais”, diz, os herdeiros mais novos demonstram gosto pela educação, e a enchem de esperança no futuro.
“Minha mãe é tudo pra mim e eu procuro aprender tudo o que ela sabe”, diz a filha Joselaynne, de 28 anos, que pretende cursar pedagogia.
Gleycehenne, de 19 anos, filha adotiva de Aldina, termina este ano o Ensino Médio e quer tentar logo o Vestibular. “Eu digo que eu sou o presente dela e ela é o meu presente. Tudo o que os meus pais me dão eu procuro retribuir sendo uma boa filha. E eu vou fazer faculdade porque me inspiro nela”, diz a menina que pensa em cursar Fisioterapia ou Educação Física.
As netas Hellen e Héryka, de 7 e 8 anos, já brincam com a ideia de se tornarem professoras como a Aldina, e Ghabriel, de 10 anos, diz que quer ser médico quando crescer, “para cuidar da vó”.
Quem vê Aldina faladeira, vaidosa rodeada das filhas e netos, cheia de alegria contando sua própria história e prestes a se formar no Ensino Superior não imagina quão tímida ela é. “Na sala de aula eu sempre sento no canto bem do fundo, do lado direito. Até quando estou no lugar de professora fico no cantinho, e se tenho que ir pra frente apresentar trabalho me dá uma tremedeira!”, confessa. A timidez, porém, não lhe tira a expressão alegre, tampouco a vontade de realizar o sonho de lecionar na educação infantil e também na alfabetização de adultos, para ajudar pessoas que, como ela, não tiveram a chance de aprender a ler quando pequenas. “Quero ter uma turma só pra mim.” E depois de tudo que passou, quem ousa duvidar que ela vai conseguir?
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