Três amigas: a história de amizade que nasceu na UFT

Certa vez ouvi um professor dizer, em uma aula inaugural, para olharmos para o lado e observarmos bem os colegas a nossa volta, pois ali estaria alguns dos nossos futuros e melhores amigos. E como fazer bons amigos? Não há regras, mas a convivência passa por esse processo. A universidade - suas salas de aula e demais espaços de convívio acadêmico - é um espaço privilegiado para o despertar de novas e duradouras amizades. Gabriel Garcia Marquez certa vez disse que há vários estágios para a amizade e o mais alto deles é a amizade-máfia, onde a lealdade, solidariedade, generosidade e silêncio perpassam essa relação de zelosa fraternidade.

Eu encontrei essa amizade na universidade. Na verdade, mais de uma, duas grandes amizades! Um trio de amigas diferentes, singulares, mas presentes, que se respeitam e se amam. O ano era 2001, éramos calouras do curso de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo da recém-criada Universidade Federal do Tocantins (UFT). Gleide e Samara se conheceram primeiro, já na fila da matrícula, quando uma alertou a outra sobre um botão aberto. Pronto, era o início de uma amizade.

Na fila, descobriram que fariam o mesmo curso e começaram a sair juntas. Samara logo abriu a porta da sua casa para uma festa e os laços foram estreitando. Em seguida, eu, Virgínia, cheguei. No início achava Samara “feliz demais”, uma pessoa sempre de sorriso aberto, mas isso também me fez  admirá-la. Com ela, veio a Gleide e sua espontaneidade e generosidade de sempre. Éramos aparentemente diferentes, mas uma acrescentava à vida da outra. Samara acredita que somos diferentes em alguns gostos, mas que temos valores parecidos - isso nos uniu: “Respeitamos o diferente e somamos o igual. A gente se entende. Sempre nos comunicamos muito bem”.

Samara conta que uma vez estava em sua casa com medo, achava que tinha alguém lá e me ligou. Eu peguei minha Moto Biz e apareci, quando descobrimos que a pessoa dentro de casa era a sombra de uma árvore. Nessa hora ela pensou: “Essa menina é minha amiga mesmo, veio aqui em casa”. Um gesto de solidariedade.

Somos uma amizade-máfia, a gente se entende, se respeita, se guarda, se ajuda e sempre presente na vida uma da outra, ainda que distante. “O estar presente é o que faz a gente se solidificar”, garante Samara. Gleide acrescenta: “Existe uma sintonia. Você sabe que elas estão lá, você vai contar, vai estar lá sintonizadas, juntas”, a lealdade.

Esses laços fizeram com quem estivéssemos presente uma na vida das outras, em momentos de desafios e de festa. Samara e eu fomos floristas do casamento da Gleide; Samara e Gleide foram madrinhas do meu casamento. Samara estava ao lado de Gleide também para comemorar o divórcio, também respeitando o silêncio. Estávamos juntas, ainda que distantes, quando Samara teve que fazer uma cirurgia. Amizade que cuida. A casa de Samara, conta ela, tem o “dedo da Gleide”, pois ela a ajudou financeiramente no início pra que esse sonho fosse uma realidade - eis a generosidade.

Gleide define essa amizade verdadeira como um lugar de confiança e segurança com aquelas pessoas que você pode contar. “A UFT me trouxe vocês, mesmo distante. Sabemos dos problemas e soluções, qualidades e defeitos e isso tudo é natural. Os trabalhos da faculdade nos uniram com duas garrafas de vinho barato, queijo mussarela e mortadela de frango. Minha família em Palmas são os amigos!”, se diverte e comemora ela.

E é assim, uma parceria cheia de pequenos gestos, histórias boas e às vezes ruins, mas repleta de respeito e muito amor. Ainda que a gente demore se encontrar, que a correria e os percalços da vida nos distanciem por alguns dias, quando nos encontramos é a mesma coisa, nada mudou!

Escrevi esse texto para comemorar o dia do amigo (20 de julho) e o dia internacional da amizade (30 de julho).