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ressignificar a vida

Programa de doação de corpos à Universidade Federal do Tocantins é aprovado

Por Virgínia Magrin | Publicado: Quinta, 13 de Junho de 2019, 12h57 | Última atualização em Quinta, 13 de Junho de 2019, 17h47

Falar ou pensar sobre a morte é um grande tabu na nossa sociedade, embora essa seja a única certeza que nos cerca. Mas qual seria a relação entre um tema tão impactante como esse com os cursos da saúde? A morte poderia ser ressignificada a ponto de dar vida a sonhos e esperança de uma sociedade melhor? Para o Programa de Doação de Corpos da UFT, aprovado pelo Conselho Diretor do Câmpus de Palmas na última segunda-feira (10), sim.

O programa é o primeiro cadastrado no Tocantins e na região Norte e tem como base vários outros projetos exitosos no Brasil e no mundo, seguindo todas as recomendações previstas no Código Civil, nas formas das Leis 8.501/1992, 10.406/2002 e 9.434/97. Além disso, ele leva em consideração que o corpo é o principal instrumento de aprendizado científico e treinamento para os futuros profissionais da saúde.

Entretanto, a maioria das universidades brasileiras possui déficit de corpos para as atividades de ensino, pesquisa e extensão. Na UFT não é diferente, a instituição possui apenas 14 corpos, sendo que 13 deles foram doados entre os anos de 2007 e 2013. Para solucionar essa questão vários países e algumas universidades brasileiras implementaram programas de doação voluntária de corpos. Seguindo esses modelos, professores, técnicos e discentes da UFT elaboraram o Programa de Doação de Corpos e/ou órgãos da UFT, cujo slogan é “Doar é um ato de ressignificar a vida”.

Tainá Abreu, que está à frente deste projeto, explica que o principal objetivo deste programa é sensibilizar a sociedade em relação à destinação dos corpos após a morte. “Este projeto prevê uma destinação alternativa para os corpos e/ou órgãos, que culminará com o processo de doação para o ensino, pesquisa e extensão. Essa ação altruística permitirá melhorias nas nossas condições de ensino e colaborará com uma melhor formação dos nossos acadêmicos que no futuro servirão à sociedade”, destaca Tainá. 

Aprovação

Os estudantes aprovam o novo programa. "Temos tanto peças sintéticas quanto os corpos e eu vejo uma diferença absurda em estudar uma peça real e uma peça feita de plástico. Quanto mais a gente tiver preparado para o mercado de trabalho, melhor. Quanto mais próximo da realidade, mais contribui para sermos um bom profissional", afirma Juliana Gonçalves, estudante do 3º período de Nutrição.

João Filho, estudante do 4º período de Enfermagem, diz que é muito importante estudar com os corpos, pois as nuances que tem o corpo humano, um corpo sintético não vai ter. “As diferenças anatômicas que podem ocorrer no corpo humano, não serão respaldadas pelo plástico”, enfatiza ele.

Para a vice-reitora Ana Lúcia de Medeiros, o programa é fundamental por três pontos: “Pelo seu pioneirismo na região Norte, pois sabemos que o programa é exitoso em outras universidades do Brasil; para educação, especialmente porque a UFT tem hoje dois cursos de Medicina, Nutrição, Enfermagem, Psicologia, Educação Física, que demandam estudos do corpo humano e embora existam peças sintéticas de alta tecnologia, nada supera o corpo humano e vai contribuir para a formação do estudante da área da saúde; o terceiro ponto é que também é um programa social. Muitos corpos são enterrados como indigentes e a partir do momento em que nós implantarmos o Programa, trabalharemos esse ritual de passagem que faz parte da nossa cultura cristã, a universidade contribui para dar dignidade ao corpo, dando significado a esse ritual de passagem”, diz Ana Lúcia.

Decisão segura

O provável doador poderá́ agendar uma visita com os docentes e técnicos responsáveis pelo projeto, por meio dos telefones e sites disponibilizados nas mídias. Além disso, é importante estar seguro de sua escolha e informar esse desejo aos familiares próximos. Caso o doador em vida desista da doação ele pode revogar essa decisão a qualquer momento e comunicar por escrito ou via e-mail o Departamento da Gestão de Laboratórios da Saúde desta nova decisão.

Caso não haja a manifestação em vida e os parentes próximos queiram destinar o corpo e/ou órgãos de familiares para a Universidade também será possível concretizar esta doação. Essa ação seguirá a Lei no 9.434/97, desde que sejam cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau. Para efetivar esse tipo de doação os tramites serão os mesmos do doador em vida, só́ alterará o tipo de documento.

Victor Nepomuceno, Tainá de Abreu e Ediana Silva, alguns dos idealizadores do projeto. (Foto: Vinícius Venâncio)Victor Nepomuceno, Tainá de Abreu e Ediana Silva, alguns dos idealizadores do projeto. (Foto: Vinícius Venâncio)

Cuidados

O corpo e/ou órgãos doados serão destinados a um laboratório de anatomia da UFT, onde ocorrerão as atividades de ensino e também poderão compor o museu de anatomia da UFT - um projeto de extensão que já prevê oficinas de dissecação para a preparação das peças que serão expostas, sempre de forma anônima e que não seja possível a sua identificação.

Tainá Abreu, além de estar à frente do programa, também é uma das professores do Laboratório de Anatomia da UFT. Ela deixa claro o cuidado da UFT com os corpos e órgão doados e utilizados para aprendizado. “Toda a confidencialidade do doador será mantida, bem como as informações fornecidas permanecerão sigilosas e estarão armazenadas no banco de dados do programa de doação no Departamento da Gestão de Laboratórios da Saúde. O acesso ao corpo será exclusivamente por professores, técnicos e alunos que estiverem cursando a disciplina de anatomia”, esclarece ela.

Para se evitar constrangimentos não será permitido de forma alguma que os familiares do doador tenham acesso ao corpo doado. Para prestar as suas homenagens os familiares deverão se direcionar ao jazigo da UFT no cemitério.

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