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Entre prazer e sofrimento na vida universitária

Pesquisadora da UFT vem realizando estudos e propondo ações pela saúde mental dos estudantes

Por Gihane Scaravonatti | Publicado: Sexta, 28 de Julho de 2023, 19h23 | Última atualização em Quinta, 16 de Novembro de 2023, 13h09

O ano era 2019, lá nos primeiros meses dele. Na Universidade Federal do Tocantins (UFT), mais um semestre letivo havia iniciado. A notícia de uma nova disciplina, ofertada aos alunos dos cursos de Administração e Jornalismo, no Câmpus de Palmas, chamou muito a atenção: tratava-se da optativa “Prazer e Sofrimento na Universidade”.

Na divulgação da abertura de vagas na disciplina, a chamada falava de um espaço de fala e de escuta aos alunos, para que pudessem narrar suas vivências de prazer e de sofrimento na Universidade

Também enfatizava a construção de laços de cooperação e solidariedade entre os participantes, para o enfrentamento de situações de sofrimento mental na trajetória acadêmica. Não deu outra: as vagas rapidamente se esgotaram e uma longa fila de espera se formou - com procura, inclusive, por alunos de outros cursos.

“Na mídia local, também houve grande repercussão: saíram várias matérias, sobre esta oferta, em veículos da região”, lembra a idealizadora da disciplina, a professora pesquisadora Liliam Deisy Ghizoni. “O interesse nos fez pensar, ainda mais, no quanto os estudantes necessitam de espaços de fala”, explica Ghizoni, que é professora e pesquisadora no curso de Administração e no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Sociedade (PPGCom), da UFT. 

 

A dor de ser

Liliam conta que a ideia para criar a disciplina começou a ganhar seus primeiros contornos em 2018. “Inicialmente, deu-se pelas discussões no Coletivo Interinstitucional de Pesquisadores Brasileiros, no Grupo de Saúde Mental nas Instituições de Ensino Superior (IES). 

À época, um debate específico de que também participava Liliam, no Coletivo de Psicodinâmica, crescia e inquietava bastante os pesquisadores: a sequência alarmante de casos de suicídio de pessoas inseridas no contexto acadêmico, tanto alunos quanto técnicos e professores. 

“Em julho daquele mesmo ano, na reunião da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP), em Brasília, o Conselho Regional de Psicologia convidou estudantes de Psicologia, psicólogos, assistentes sociais, ouvidores para uma roda de conversa”, relata ela. “Naquele espaço de diálogo, pudemos refletir bem sobre a dor de ser aluno na contemporaneidade e o forte papel que um professor pode ter nesse processo de promover o adoecimento”, destaca a pesquisadora, que é doutora em Psicologia Social do Trabalho e das Organizações, pela Universidade de Brasília (UnB). 

 

Felicidade tem fórmula?

Diante do contexto preocupante e toda a discussão em torno da problemática, Liliam destaca a repercussão da disciplina Felicidade, proposta pelo professor e pesquisador da Unb Wander Pereira da Silva, no segundo semestre de 2018. 

Inspirado em iniciativas semelhantes de duas conceituadas universidades norte-americanas - Yale e Harvard -, Wander ofertou, naquele ano, a primeira disciplina acadêmica, no Brasil, a tratar de felicidade

Nas aulas, o professor não reduziu a felicidade a um conceito tampouco sugeriu uma “fórmula mágica”, ou definitiva, para se alcançá-la ou vivê-la. Pelo contrário, provocou os estudantes, ao longo do encontros da disciplina, à reflexão sobre a felicidade enquanto sensação transitória e subjetiva na vida de todos nós. 

 

Uma luz e um novo olhar

“A disciplina proposta pelo Wander foi uma luz no fim do túnel”, lembra Liliam, “nos mostrando ser possível criarmos espaços em que pudéssemos realmente olhar para os nossos estudantes”.

A pesquisadora conta que, a partir das reflexões geradas, era necessário que se passasse a olhar para o estudante inclusive como um sujeito “trabalhador”. “O ato de estudar na universidade é o seu trabalho, para além de outros trabalhos como estágios ou vínculos formais de emprego”, destaca. 

Como um dos resultados dos debates sobre a questão na época, a UFT criou o Programa Institucional Mais Vida - atualmente, com suas atividades já encerradas. Vinculado à Pró-Reitoria de Graduação (Prograd), o programa promovia debates e ações sobre bem-estar e saúde mental entre a comunidade acadêmica, visando a prevenção e o enfrentamento ao suicídio. 

 

Fontes de prazer versus fontes de dor

Em seus estudos sobre os fatores de prazer e de sofrimento que os universitários da UFT encontram no decorrer de suas trajetórias acadêmicas, a professora Liliam nos traz algumas informações já mapeadas por ela.

As fontes de prazer, cita ela, se centram, por exemplo, nas amizades, nas relações interpessoais estabelecidas na Universidade, em saber que vai terminar o curso e na realização de se graduar numa instituição federal.

“Mas nem as férias ou outras fontes de prazer foram citadas, o que nos faz pensar sobre o que estamos construindo de bom dentro do espaço acadêmico além do produtivismo”, pontua. 

Já as fontes de sofrimento, afirma Ghizoni, incluem pressão, cansaço, falta de tempo para fazer todos os trabalhos, falta de motivação, medo de não concluir o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

“Também existe o medo do futuro profissional e dificuldades em lidar com a arrogância e despreparo de alguns professores, o que nos leva a pensar sobre o cuidado que precisamos ter com o outro”, destaca a pesquisadora. “Isso significa ouvir e dar suporte ao estudante no decorrer do curso - e não só cobrar por resultados!”, lembra. 

 

Pesquisa em saúde mental: navegar por novas ações é preciso

Atualmente,  Liliam encontra-se em pós-doutoramento na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), desenvolvendo mais pesquisas sobre Saúde Mental dos Estudantes. Os resultados podem, futuramente, resultar em novas ações pela saúde mental dos estudantes da UFT. 

A pesquisa de Ghizoni abrange três frentes: um estudo bibliométrico; outro, acerca de dados dos atendimentos realizados pelo Serviço de Apoio Social, Pedagógico e Psicológico (SASPP), do Câmpus Palmas, nos últimos 12 anos; e o terceiro estudo consiste num inventário de estressores acadêmicos, por meio da aplicação de questionário direcionado aos graduandos do Câmpus de Palmas.

Você é estudante de graduação da UFT no Câmpus de Palmas? Contribua com esta importante pesquisa da professora Liliam. Leia aqui a notícia, acesse o questionário e participe com suas respostas!  

 

Saiba mais

Quer conhecer mais sobre o trabalho de Liliam Ghizoni, em prol da ampliação dos debates e ações pela saúde mental dos estudantes universitários? Nesta palestra on-line recente, ministrada por ela num evento da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), a pesquisadora bate um papo muito esclarecedor sobre seus estudos:

 

 

Sobre a Sexta com Ciência

Sexta com Ciência é uma seção especial de divulgação científica, para você que quer conhecer mais sobre os trabalhos que vêm sendo desenvolvidos pelos pesquisadores da UFT, nas mais diversas áreas do conhecimento. Acesse todas as matérias AQUI!

Esta seção semanal é uma iniciativa da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (Propesq) com a Superintendência de Comunicação (Sucom), em prol da disseminação e popularização da Ciência.

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