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ROBÓTICA E EDUCAÇÃO ESPECIAL

Oi, eu sou o Nico!

Por Gihane Scaravonatti | Publicado: Sexta, 06 de Outubro de 2023, 21h34 | Última atualização em Quinta, 16 de Novembro de 2023, 13h46

Que tal este simpático robô? Ele mexe os braços, balança a cabeça, pisca os olhos e, ainda por cima, bate o maior papo! Será mais uma dessas novidades comerciais para o Dia das Crianças, que se aproxima?

Nico robô_foto Qiron Robotics divulgação_Banner Sexta com Ciência capa.pngNico robô_foto Qiron Robotics divulgação_Banner Sexta com Ciência capa.png

Negativo: este é o Nico, o robô terapêutico e educacional que nasceu de uma união promissora entre a universidade pública e a iniciativa privada, e que veio para ajudar no atendimento gratuito de crianças autistas - principalmente as vulneráveis - no Tocantins.

O Nico é um dos frutos do projeto de pesquisa e extensão "Transtorno do Espectro Autista no Âmbito das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TEA-TDIC)", da Universidade Federal do Tocantins (UFT) e sob a coordenação do professor pesquisador George França.

Entre as várias ações do projeto, os membros do TEA-TDIC vêm se dedicando a estudar tecnologias digitais integradas com a robótica e voltadas para a Educação Especial e Inclusiva - em particular, das crianças cuja situação sócio-econômica lhes dificulta o acesso a ferramentas e recursos terapêuticos mais modernos e de custo mais elevado.

O robô Nico foi criado pela empresa Qiron Robotics - uma startup que está na Pulsar, a Incubadora Tecnológica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), vinculada ao seu Parque de Inovação, Ciência e Tecnologia (InovaTec) - e adquirido pela UFT. 

Robótica na educação de autistas

Robô Nico_Hellen e professor George_foto Hellen Luz divulgação.jpgRobô Nico_Hellen e professor George_foto Hellen Luz divulgação.jpgNo TEA-TDIC, a proposta de um robô para assistir indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) integra os trabalhos de pesquisa das doutorandas Héllen Souza Luz e Simone Lima de Arruda Irigon, orientadas pelo professor George França no Programa de Pós-Graduação em Modelagem Computacional de Sistemas (PPGMCS), no Câmpus de Palmas da UFT.

O Nico vem para popularizar a robótica terapêutica e educacional no Tocantins, atendendo as crianças autistas mais vulneráveis, em um estado em que mais de 70% da população é negra e 70% das pessoas ganham pouco mais de um salário mínimo”, explica França. “Ele tem, sobretudo, uma função social, diminuindo desigualdades de acesso ao atendimento a crianças autistas, em que seus responsáveis dificilmente teriam condições financeiras de arcar com recursos da robótica no atendimento dessas crianças”, destaca o professor orientador.

O trabalho de  campo com o projeto piloto do robô Nico, apto ao atendimento público de crianças com TEA, está sendo aplicado na capital tocantinense, Palmas, nas salas de recursos multifuncionais do Centro de Atendimento Educacional Especializado (CAEE) Márcia Dias Costa Nunes, vinculado à Secretaria da Educação do Estado do Tocantins (SEDUC)

Quem é o Nico e como ele funciona?

Nico é compacto e cabe numa mala de mão_foto Simone divulgação_n.jpgNico é compacto e cabe numa mala de mão_foto Simone divulgação_n.jpgO Nico é um robô projetado para caber numa mala de mão: com 44 centímetros e cerca de três quilos, ele foi feito para que os pesquisadores do projeto TEA-TDIC possam transportá-lo facilmente às diversas localidades do Tocantins - das mais centrais, urbanas, a geografias mais remotas e mesmo outros estados e países, se preciso. 

Ele movimenta a cabeça, os braços, os olhos e consegue interagir verbalmente, auxiliando no processo de desenvolvimento de habilidades sociais e comportamentais das crianças autistas. Uma das características centrais do TEA, explica a pesquisadora Héllen Luz, é a dificuldade de interação social, e o robô possui funções que podem facilitar esta interação. "Ele consegue estimular, por exemplo, a fala e outras habilidades sociais nas crianças com TEA, desenvolvendo micro comportamentos fundamentais para o processo escolar dessas crianças - como a troca de turnos, atenção conjunta, entre outros. Em indivíduos neurotípicos, esses comportamentos são desenvolvidos naturalmente, a partir da observação; já na criança com TEA, não: ela precisa ser treinada para isso e, quanto antes ocorrer, melhor, para que tenha um processo acadêmico com menos prejuízo", detalha a doutoranda do projeto TEA-TDIC UFT. 

A doutoranda Simone Irigon reforça o potencial do robô na aplicabilidade das pesquisas do projeto com crianças autistas: "o Nico tem sido eficiente no desafio de atrair e interagir, promovendo maior engajamento educacional no processo de aprendizagem de estudantes com TEA", afirma. "Suas especificações permitem programação e seus estímulos são observados por meio de movimentos corporais, roteiros verbais gravados, orientação da cabeça, movimentos do olhar e coordenadas de braços e mãos, controlados por iPad, que se comporta como um controle em tempo real, sendo assim uma ferramenta com profundidade de ensino e pesquisa capaz de despertar a empatia com o participante", relata, sobre a tecnologia em uso no projeto.

"É um robô que possibilita acesso consistente aos benefícios que a robótica humanoide pode proporcionar, com acesso a todas as inovações em inteligência artificial, visão computacional e demais aplicações desenvolvidas", atesta Rafael Miranda, engenheiro de controle e automação e diretor executivo da Qiron Robotics, empresa responsável pela concepção do modelo utilizado nas duas pesquisas do TEA-TDIC.

O economista e diretor de negócios da Qiron, Claiton Pacheco, destaca o aspecto "duo" do Nico, um robô, segundo ele, de caráter terapêutico e, também, social. "Terapêutico porque está levando tecnologia de ponta para o tratamento de crianças com autismo, colocando, à disposição dos profissionais e pacientes, o que há de mais moderno e eficiente no mundo. Social porque, ao adentrar nas escolas e sistemas públicos de tratamento dessas crianças, ele democratiza o acesso à tecnologia, minimizando a diferença de tratamentos entre ricos e pobres" afirma Pacheco.

O executivo da Qiron ainda ressalta a importância da parceria estabelecida com a academia para a garantia no uso da tecnologia, que está a serviço de um grupo social que requer bastante cuidado e estudo na aplicação de protocolos de atendimento. "O papel da Universidade é fundamental porque, ao desenvolvermos protocolos validados pela Ciência, isso traz credibilidade e segurança para o uso da tecnologia, de forma a, efetivamente, melhorar a vida das crianças e das suas famílias", destaca o diretor de negócios da empresa. 

Para conhecer mais sobre o trabalho da Qiron Robotics - startup incubada pela UFSM e parceira da UFT neste projeto científico inédito, no Tocantins, com robótica aplicada na educação pública de autistas - acesse o site da empresa e seu perfil no Instagram.

Confira, aqui, um pouco do trabalho da Qiron com uso de robótica na educação infantil:

Multidisciplinaridade para contemplar a diversidade

Os trabalhos de Héllen, que é cientista da computação, e Simone, pedagoga e também graduada em serviço social, dialogam e se complementam ao longo do percurso de doutoramento das pesquisadoras. Ainda, ambas atuam como professoras na rede pública de ensino no Tocantins, habituadas, assim, às peculiaridades e desafios envolvidos na área da Educação Básica no estado - incluindo a complexa teia da diversidade sócio-econômico-cultural dos estudantes e as lacunas e necessidades ainda tão presentes na Educação Especial e Inclusiva de crianças neuroatípicas, num todo. 

Robô Nico_foto George França divulgação.jpgRobô Nico_foto George França divulgação.jpg

"Nossas pesquisas conversam, interagem, se conectam. A Héllen, que é da área da Ciência da Computação, retrata mais a questão da robótica no projeto. Na minha área, pedagógica, trato mais das intervenções educacionais utilizadas com os estudantes autistas, a questão da cidadania digital, ou seja, o acesso das tecnologias por parte dos estudantes autistas e seus familiares, participantes da nossa pesquisa", explica Simone. 

Héllen destaca as expectativas com o projeto e as etapas que, dentro do cronograma de execução, vêm sendo concluídas com sucesso pelas pesquisadoras. "A expectativa é de que alcançaremos, sim, boas soluções e intervenções no processo de desenvolvimento do ensino-aprendizagem dessas crianças. A partir do próximo ano, teremos finalizado um primeiro ciclo de intervenções, validando os primeiros protocolos de uso com o Nico. Queremos que esta tecnologia alcance diversos ambientes educacionais e terapêuticos, que chegue ao maior número de crianças tocantinenses, das mais variadas realidades sociais, em que o robô também seja uma ferramenta de inclusão social", finaliza a doutoranda.  

Sobre o TEA-TDIC

O projeto TEA-TDIC UFT atua numa série de ações envolvendo pesquisa e extensão e busca capacitar professores do Tocantins - especialmente os do Ensino Básico público - para trabalharem com alunos autistas.

Neste vídeo, por exemplo, disponível no canal do TEA-TDIC no Youtube, o professor George França - coordenador do projeto -, sua orientanda de doutorado Héllen Luz, executivos da Qiron e pesquisadores convidados, batem um papo muito agradável e esclarecedor sobre o uso da robótica na educação de crianças e adolescentes autistas e contam um pouco sobre como surgiu o robô Nico. 

Já neste outro vídeo, George traz detalhes sobre o livro Autismo: Tecnologias e formação de professores para a escola pública  - em que ele é um dos organizadores. O professor também disponibiliza um link onde é possível baixar a obra gratuitamente, que é composta por quatorze artigos científicos sobre o uso das tecnologias digitais da informação e comunicação voltados para a interlocução no processo ensino-aprendizagem nas escolas. 

Para mais informações sobre as ações o projeto de pesquisa e extensão TEA-TDIC UFT, você pode acompanhar o trabalho do grupo no Instagram, no Youtube ou mesmo entrar em contato por e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..  

Sobre a Sexta com Ciência

Sexta com Ciência é uma seção especial de divulgação científica, para você que quer conhecer mais sobre os trabalhos que vêm sendo desenvolvidos pelos pesquisadores da UFT, nas mais diversas áreas do conhecimento. Acesse todas as matérias AQUI!

Esta seção semanal é uma iniciativa da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (Propesq) com a Superintendência de Comunicação (Sucom), em prol da disseminação e popularização da Ciência.

Fique ligado: toda sexta-feira - no portal e redes sociais da UFT - é dia de Sexta com Ciência!

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