Dia do Intérprete de Libras: UFT conta com oito profissionais para atender comunidade surda
Eles falam com as mãos, com os músculos da face, com o corpo. São os ouvidos das pessoas surdas, a voz e também um canal facilitador de leitura e escrita, para quem, pela falta da audição, não consegue oralizar e transita muitas vezes com dificuldade na gramática da Língua Portuguesa. Para quem é ouvinte, mas não sabe "ouvir" o que os surdos dizem nem "falar" pela língua de sinais, eles abrem portas de comunicação e possibilitam a interação e o diálogo entre comunidades que se expressam de formas distintas, mas que compartilham espaços e que tanto podem acrescentar uma a outra. Estes são os Intérpretes de Libras, profissionais cuja data se comemora nesta terça-feira, dia 26 de julho.
Diferentemente do que muitos pensam, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) possui uma estrutura gramatical e é capaz de expressar ideias profundas e complexas. Não é, portanto, uma mera linguagem ou um conjunto descoordenado de mímicas ou gestos. Além disso, a Libras não se resume ao alfabeto manual - já razoavelmente disseminado. Ao contrário, grande parte da comunicação em Libras se baseia na utilização de sinais que expressam nomes, palavras, conceitos e ideias inteiras, e não por meio da soletração (datilologia).
Atualmente, a comunidade surda da UFT inclui dezenas de pessoas. Somente no Câmpus de Porto Nacional, sede do Curso de Graduação em Letras-Libras (licenciatura), há cerca de 40 alunos surdos matriculados, e dois professores com essa condição. Para atender essa demanda, a Universidade conta com oito intérpretes de Libras, sendo um lotado na Reitoria, dois no Câmpus de Palmas, dois no Câmpus de Araguaína e três no Câmpus de Porto Nacional.
O servidor Ânderson Carvalho é um deles, na função desde 2008, em Palmas. Para ele, a fluência em Libras veio com a convivência, primeiro com um amigo surdo, e depois com muitos outros que se seguiram. Já a vocação para ser intérprete foi descoberta na igreja, quando passou a integrar um grupo dedicado a compartilhar os textos bíblicos com a comunidade surda. "O ser humano tem necessidade de se comunicar, e ser intérprete me proporciona lugar cativo na primeira fileira da acessibilidade para os surdos, o que me traz um sentimento de realização indescritível", comenta.
Maxwell Cunha, que já foi intérprete no Câmpus de Porto Nacional e atualmente trabalha na Reitoria, tem uma história parecida. Religioso, fez seu primeiro curso de Libras inicialmente para se comunicar com a irmã, quando ela desenvolveu uma surdez profunda, e também para ensinar a Bíblia aos surdos. Mais tarde, viu nesse conhecimento uma oportunidade de carreira profissional. "O que mais me realiza é poder ajudar essa minoria. A gente recebe por isso, claro, mas também se sente realizado por estar ajudando a comunidade surda, por ser útil para a sociedade e por estar promovendo a Língua de Sinais e a inclusão social", ressalta ele, que hoje atua no Programa de Acessibilidade e Educação Inclusiva (Paei), instituído na UFT no ano passado com o objetivo de discutir políticas e promover a acessibilidade de pessoas com deficiência na UFT.
Para Ester Nunes, intérprete lotada no Câmpus de Araguaína, a descoberta da profissão também veio em meio a um drama pessoal, depois que o filho, hoje com 19 anos, teve meningite com menos de dois anos de idade, e como sequela perdeu a audição. Em Goiânia, onde vivia, sem condições de pagar quatro coletivos por dia para levar e buscar o filho na escola especial, ficava esperando durante o período das aulas, e nesse ambiente logo descobriu que poderia aproveitar melhor esse tempo. "Não é fácil para uma mãe não conseguir se comunicar com um filho que de uma hora para outra esqueceu tudo o que sabia falar. Mas então eu fui aprendendo a língua de sinais e a Libras me possibilitou restabelecer essa conexão com ele, me mostrou que ele poderia estudar, se desenvolver, ter uma profissão, e também me abriu uma oportunidade de trabalho", lembra Ester, que além de intérprete hoje é professora de Libras para ouvintes.
Rotina exigente
Na Universidade, a rotina dos intérpretes consiste em acompanhar estudantes e professores surdos em aulas, atividades acadêmicas, reuniões e eventos. Para cumprir bem essa função, eles precisam não apenas ser fluentes na língua de sinais, mas também ter conhecimento e vocabulário abrangente sobre os mais diversos assuntos a serem traduzidos e interpretados. "Para isso, em geral estudamos o material das aulas com antecedência (livros, vídeos, slides etc.), porque é difícil interpretar algo que não compreendemos", explica Ânderson.
Além do esforço cognitivo intenso, a atividade de interpretação exige preparo físico já que envolve movimentos constantes com mãos e braços, além de expressão facial e corporal. Por isso, conforme explicam os profissionais, para conseguir manter o ritmo de tradução com o mínimo de perdas possível, o ideal é que os intérpretes trabalhem em duplas e possam se revezar em intervalos de cerca de 20 minutos.
Outra questão importante é a relação de parceria necessária para um bom desenvolvimento do trabalho. "O surdo precisa ter confiança no tradutor, e com isso a gente acaba criando amizade também", destaca Maxwell.
Para os profissionais, além das dificuldades inerentes ao trabalho, o principal ponto negativo levantado é a falta de valorização em relação a todo processo de formação profissional que a atividade exige. "Muitos ainda acreditam que o processo de tradução e interpretação é algo simplório ou trivial que pode ser feito de qualquer forma ou por qualquer um", analisa Ânderson.
Outra questão a ser superada, segundo eles, é a carência de uma equipe maior de profissionais, tendo em vista que o próprio processo de inclusão social faz aumentar a demanda por recursos de acessibilidade. Desta forma, o desafio de ampliar o atendimento é, ao mesmo tempo, um ponto positivo, sinal de que a inclusão social segue uma tendência de crescimento. "Hoje nós conseguimos atender todas as demandas mediante agendamento, mas a probabilidade daqui para frente é só aumentar essa procura, com os surdos ingressando cada vez mais na Universidade", observa Maxwell.
Para aprender Libras
A profissão de Intérprete de Libras é regulamentada pela Lei n° 12.319/2010, e exige formação em curso técnico profissionalizante, de extensão ou de formação continuada, além de certificado de proficiência (o Prolibras).
A UFT oferece curso de graduação em Letras-Libras, na modalidade licenciatura. Este, porém, é voltado especificamente para a formação de professores, ou seja, para pessoas interessadas em atuar como docentes de Libras. Além disso, a Libras integra a matriz curricular de diversos outros cursos de graduação, sendo disciplina obrigatória nos cursos de licenciatura.
Por reconhecer a importância de disseminar a língua de sinais e ter mais pessoas aptas à comunicação com surdos em seus diversos setores administrativos e acadêmicos, a UFT realiza cursos de capacitação em Língua Brasileira de Sinais. Nos últimos três anos, quase cem servidores foram capacitados nos câmpus de Araguaína, Palmas, Porto Nacional e Tocantinópolis por meio do Projeto Servidor Multiplicador, desenvolvido pela Pró-reitoria de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas (Progedep).
Também é possível aprender e se comunicar em Libras utilizando diversos aplicativos disponíveis para computador, tablet e smartphone.
Libras no Portal UFT
E por falar em computadores, tablets e smartphones, os conteúdos do Portal UFT são acessíveis em Libras por meio do Vlibras, uma suíte de ferramentas que realiza a tradução automática do Português para a Língua Brasileira de Sinais e pode ser utilizada nestes diferentes dispositivos. Para utilizar o Vlibras é preciso baixar e instalar esses recursos. O serviço é gratuito. Mais informações no link http://www.vlibras.gov.br/.
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