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EXPEDIÇÃO CIENTÍFICA

Pesquisadores da UFT navegam rios Javaés e Araguaia em segunda edição da Expedição UFT Canguçu

Por Caroline Carvalho | Edição e revisão: Gihane Scaravonatti | Publicado: Sexta, 14 de Julho de 2023, 17h53 | Última atualização em Quinta, 16 de Novembro de 2023, 13h03

De caráter científico, a excursão reuniu pesquisadores de peixes, aves e répteis da Ilha do Bananal

 

Entre os dias 5 e 9 de julho, uma equipe de professores pesquisadores da Universidade Federal do Tocantins (UFT) navegou mais de 100 quilômetros pelos rios Javaés e Araguaia, em uma expedição de caráter científico promovida pela Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (Propesq) da UFT. 
A segunda edição da Expedição UFT Canguçu reuniu 16 pessoas: três pesquisadores científicos, quatro membros da equipe jornalística e audiovisual, dois servidores, um patrocinador, um graduando de Ciências Biológicas, um mestrando do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade, Ecologia e Conservação (PPGBEC), dois servidores do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins), uma cozinheira e um guia local.

Navegando em barcos a motor, o grupo transitou entre os dois maiores biomas brasileiros, o Cerrado e a Amazônia, com o objetivo de coletar informações para a realização de levantamentos acerca da biodiversidade da Ilha do Bananal – a maior ilha fluvial do mundo, onde está localizado o Parque Nacional do Araguaia e, nas proximidades, o Parque Estadual do Cantão.

De acordo com professor, pesquisador e pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação da UFT, Raphael Sanzio Pimenta, na edição deste ano foram implementadas melhorias nas acomodações e nos equipamentos que foram disponibilizados e adquiridos com os recursos dos patrocinadores. “Acreditamos que, no ano que vem, conseguiremos ampliar ainda mais as atividades, colaborando, inclusive, com a formação de estudantes e estagiários de iniciação científica, além de cooperar com as pesquisas dos professores da Universidade”, assegura.

Dessa forma, segundo o pró-reitor, um dos objetivos para a próxima edição é atrair novos parceiros, pesquisadores da UFT e mesmo docentes de outras instituições, sejam elas nacionais ou internacionais, para a realização de pesquisas na região do Canguçu. “Essa região abriga reservas importantíssimas do nosso estado, além de possuir uma alta riqueza biológica. Colaboramos para a preservação e conservação da área, possibilitando o desenvolvimento econômico e social”, afirma.

Um destino ideal para a observação de aves

De acordo com levantamentos realizados na região, foram identificadas, na Ilha do Bananal, cerca de 415 espécies de aves, sendo quatro quase ameaçadas e oito ameaçadas de extinção, 27 endêmicas Amazônicas e nove endêmicas do Cerrado, além de onze espécies migratórias neárticas.

Renato Torres Pinheiro, professor, pesquisador da UFT e coordenador do Centro de Pesquisa Canguçu, dedicou os quatro dias de expedição à observação de patos-corredores e aves migratórias. “Nós monitoramos aqui, por exemplo, o pato-corredor há mais de dez anos e verificamos uma queda acentuada de sua população. Hoje, localmente, ele está ameaçado de extinção”, pontua.

Em busca das aves migratórias, o pesquisador navegou, na expedição, até a tríplice fronteira entre Tocantins, Pará e Mato Grosso, pelo rio Araguaia. “Estamos em uma região muito importante em termos biológicos, geográficos e culturais. Temos feito o acompanhamento de colônias de talha-mar, também conhecidas como corta-água, há mais de cinco anos. Inclusive, já marcamos algumas aves: tanto com anéis numerados, como também com emissores de sinais para satélites”, explana Renato.

A espécie, que se reproduz nas praias do rio Araguaia e do rio Javaés, migra para o norte da Argentina durante o período de cheia dos rios, em busca de ambientes mais favoráveis e retorna quando o volume d’água baixa para a reprodução. “Marcamos uma ave que deixou a praia do rio Javaés no dia 30 de outubro do ano passado. No dia 31, ela já estava no Pantanal. Passou uns dias lá, recuperando-se do cansaço e repondo as energias para, depois, voar para a região norte da Argentina, onde ficou por todo o período de cheias aqui. Em maio do ano seguinte, ela retornou fazendo um caminho semelhante. Esse ciclo durou cerca de seis meses”, explica.

As aves migratórias escolhem áreas específicas para construir seus ninhos. “É importante destacar também que o monitoramento delas é essencial, porque elas têm contato com diversos locais e podem trazer doenças, como a gripe aviária. Por isso, é necessário retirar amostras, para verificar se aquele grupo está realmente íntegro", afirma o pesquisador.

Entre redes de arrasto e pedrais

À margem do rio Javaés, o professor e pesquisador Thiago Nilton Pereira e seu aluno de graduação em Ciências Biológicas, João Lucas Freitas, realizaram a coleta de ictiofauna para a coleção de peixes do Laboratório de Ictiologia Sistemática da Universidade Federal do Tocantins, que tem a finalidade de manter, à disposição dos especialistas, uma vasta fonte para descrições de novas espécies, revisões taxonômicas, análises biogeográficas, gerenciamento ambiental, conservação e bioprospecção.

Nos pedrais, existem pedras móveis ou fixas. (Foto: Caroline Carvalho)

“Começamos os trabalhos de coleta de ictiofauna através de alguns arrastos de praia e, posteriormente, fomos aos famosos pedrais, que possuem peixes bem interessantes alocados nas formações rochosas. Nas pedras, por exemplo, coletamos um cascudo, que é uma espécie que venho procurando há algum tempo, porque nós temos poucos exemplares dele disponíveis para a realização de sua descrição formal”, comunica Thiago.

A coleção de peixes no laboratório da UFT em Porto Nacional abriga mais de 400 espécies da região dos rios Javaés e Araguaia. “Nos pedrais, durante os meses de setembro e agosto, há uma variedade maior de espécies por causa do nível do rio. Nesses meses, conseguimos avistar de longe essa formação rochosa e é também mais fácil de trabalhar. Associado ao ambiente dos pedrais, também são encontradas microalgas, insetos aquáticos, organismos diversos que vão compor esse sistema biológico. De certa maneira, quando falamos de peixes, várias espécies vão habitar este espaço, como: bagres, lambaris, entre outras”, esclarece o pesquisador.

Para João Lucas, estudante de Ciências Biológicas, ter participado dos trabalhos em campo foi uma experiência muito positiva. “No meu dia-a-dia, tenho muito contato com ictiofauna. Aqui na expedição, além de ajudar no trabalho do professor Thiago, tive a oportunidade de entrar em contato com muitas coisas diferentes: aves, jacarés e tartarugas. Como também tenho interesse em outras áreas, foi uma excelente oportunidade para ampliar esse contato e conhecer o trabalho dos outros professores pesquisadores”, declara.

Navegando entre jacarés e tartarugas amazônicas

Para o professor e pesquisador do curso de Engenharia Ambiental da UFT, Thiago Portelinha - que estuda espécies de crocodilianos e quelônios da região -, e para o mestrando do PPGBEC, Anderson Alves, cuja dissertação envolve as tartarugas-da-amazônia, a segunda Expedição UFT Canguçu foi a oportunidade ideal para que dessem seguimento às suas pesquisas. 

“Estamos dando continuidade ao nosso trabalho de pesquisa com ecologia populacional de quelônios e crocodilianos da região da Ilha do Bananal. Para isso, tomamos as medidas biométricas dos animais, a massa corporal, fizemos marcações, coletamos algumas amostras biológicas e os liberamos, com a intenção de capturá-los novamente, avaliar seu crescimento e estimar o tamanho de sua população. Ou seja, fazer alguns cálculos da vida desses animais”, explica.

Acerca dos estudos voltados à parte molecular e de genética, os pesquisadores avaliam como os contaminantes - metais pesados, por exemplo - estão chegando aos animais. Além disso, realizam estudos de ecologia isotópica, que determinam a presença de carbono e hidrogênio nos bichos, revelando a origem do alimento ingerido e o nível trófico no qual estão inseridos.

“Na área da Ilha do Bananal, temos três espécies de jacarés: jacaré-açu, jacaré-tinga e jacaré-paguá. Mas, nessa expedição, focamos apenas no jacaré-açu e na tartaruga-da-amazônia. Para os quelônios, utilizamos a técnica de rede de arrasto. Para capturar os jacarés, utilizamos cambão, laço e cabo de aço”, descreve o professor.

Abertura de novas linhas de pesquisa

A segunda Expedição UFT Canguçu trouxe novas possibilidades de pesquisa para o professor, pesquisador e ex-diretor do Câmpus de Arraias, Tony de Jesus, que foi ao Centro de Pesquisa Canguçu e à Ilha do Bananal pela primeira vez para conhecer o ambiente e acompanhar as pesquisas dos colegas que trabalham na universidade. “Estou pensando em trabalhar com a perspectiva do desenvolvimento sustentável, realizando pesquisas que envolvem a questão da biodiversidade, tanto na questão hídrica, quanto na questão da vegetação”, afirma o pesquisador.

Apoio

Além dos recursos institucionais - logísticos e financeiros - e capital humano, que possibilitaram a realização desta ação da UFT, a segunda Expedição UFT Canguçu contou com o patrocínio da Fundação de Apoio Científico e Tecnológico do Tocantins (Fapto), da ImagemMidia Comunicação Visual, do Instituto Amazônia de Tecnologias Sustentáveis (IAMTEC), do VT2Z Produções, do Hotel 10, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Tocantins (FAPT) e do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins).

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